A polêmica da fosfoetanolamina

Publicado: Quarta, 08 Junho 2016

A divulgação recente dos possíveis efeitos terapêuticos da fosfoetanolamina têm gerado muita discussão. Por conta disso, o Ministério da Ciência e Tecnologia criou uma site especial com informações a respeito do assunto.

De acordo com o MCTI:

"A fosfoetanolamina é uma substância que foi isolada pela primeira em 1936 por Edgar Laurence Outhouse do Departmento de Pesquisas Médicas do Instituto Banting da Universidade de Toronto, Canadá. No início dos anos 90 esta substância começou a ser estudada por Gilberto Orivaldo Chierice que integrava o Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo. A partir de resultados preliminares animadores em alguns modelos experimentais em linhagens celulares de câncer e em animais teve início o uso em alguns pacientes portadores de câncer na região da cidade de São Carlos-SP."

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Fosfoetanolamina

A graduação em Química Ambiental: Uma entrevista com o Prof. Dr. Renato Freire

Publicado: Segunda, 06 Junho 2016

O interesse em inserir nos cursos de Química a temática do meio ambiente surgiu no Brasil na década de 80. Como havia uma demanda significativa e poucos profissionais capacitados nesta área, foram inseridos nos cursos de graduação em Química algumas disciplinas com ementas voltadas para a química no meio ambiente.

No entanto, só em 2003 foi criado o primeiro curso de Química Ambiental do País, no Instituto de Química da Universidade de São Paulo - USP (Campus da Capital), com o desafio de formar profissionais capazes de contribuir com o desenvolvimento social, cientifico, tecnológico e econômico, em consonância com a preservação do meio ambiente.

Em 2009 o Curso de Química ambiental foi criado na Universidade Federal do Tocantins-UFT, Campus de Gurupi. Este curso habilita profissionais a entenderem tanto os processos químicos industriais, quanto suas inter-relações com o meio ambiente.

Nesta entrevista o Prof.Dr. Renato Sanches, fala um pouco sobre o cenário atual da Química Ambiental no Brasil.

 

Entrevista: Prof. Dr. Renato Sanchez Freire, Instituto de Química - USP

Como surgiu seu interesse pela área de Química?

Lembro-me que desde muito cedo fui movido por uma curiosidade inata muito grande a respeito de como e porque as coisas funcionavam. Queria saber por que o céu era azul, por que o sabão ajudava a limpar as roupas e louças, por que a gasolina pegava fogo facilmente enquanto o diesel não e ambos podiam ser usados como combustíveis, por que e qual seria o melhor material para construir foguetes. Quando estava terminando o ensino médio, pareceu-me que estas e outras perguntas só podiam ser bem respondidas por um profissional que conhecesse profundamente a composição e reatividade das diferentes substâncias e compostos. Acreditava que de posse destes conhecimentos, haveria inúmeros campos de trabalho e atividades econômicas que eu pudesse atuar como futuro químico.

 

O curso de Química Ambiental da USP foi o primeiro do gênero no País. Como surgiu o interesse na criação deste Curso?

A Química é a ciência chave para a minimização de vários problemas ambientais pois, o equacionamento de soluções passa pela compreensão dos mecanismos de reações entre as moléculas poluidoras e destas com o meio ambiente. Num contexto multidisciplinar a Química pode ser útil contribuindo para a compreensão da mobilidade e destino de poluentes, no desenvolvimento de métodos seletivos e mais sensíveis de análise, na proposição de mecanismos para rotas sintéticas mais simples e eficientes, na construção de filtros retentores de poluentes, na degradação de espécies químicas indesejáveis, no desenvolvimento de novas formas de energia, dentre inúmeros outros pontos de interesse ambiental.

Neste contexto, o Bacharelado em Química Ambiental foi criado com o objetivo de propiciar aos estudantes conhecimentos complementares específicos na área de Química Ambiental que promovam o trânsito por assuntos relacionados ao comportamento químico dos componentes do meio ambiente e as interações e processos a eles associados.

 

Quais os objetivos do curso?

É importante frisar que o Bacharel em Química Ambiental será, antes de tudo, um Bacharel em Química, ou seja, um profissional com sólida formação básica nos tópicos essenciais da Química, além de bons conhecimentos de Matemática e Física. Além dessa formação fundamental, o Bacharel em Química Ambiental também recebe uma formação específica na área de Química Ambiental. O conhecimento da Química de rochas, solos, água, ar e organismos vivos permite a compreensão dos processos que causam a mobilização e imobilização de espécies químicas nos diferentes compartimentos ambientais e a influência humana sobre o meio ambiente. Busca-se formar um profissional com trânsito entre a Química e problemas ambientais e que seja capaz de atuar no controle, monitoramento e minimização da poluição. Este profissional também deve ser capaz de trabalhar em equipe, ter capacidade crítica para avaliar novas situações, usar de maneira apropriada a biblioteca e as fontes modernas de consultas eletrônicas e saber se expressar nas formas escrita e oral.

 

Quais as áreas de atuação do profissional formado em Bacharelado em Química Ambiental?

Todas os áreas “clássicas” do Bacharel em Química. Além disso, o profissional formado neste curso tem uma formação mais ampla, aumentando o leque de áreas de atuação. Tal perfil é adequado para carreiras que visam ao controle ambiental, tratamento e administração de águas, pericia, legislação ambiental, desenvolvimento de metodologias analíticas, etc. Algumas das áreas de atuação esperadas para o profissional formado são: indústria (análises químicas, pesquisa e desenvolvimento), relacionado ou não a questões ambientais; órgãos de controle e fiscalização (CETESB, etc); consultoria Ambiental (certificação, licenciamento ambiental, etc); serviços (laudos, perícias, etc), relacionados ou não a questões ambientais; academia (pesquisa e ensino), após a complementação dos estudos em nível de pós-graduação; outros (jornalismo, empresa própria, etc) que envolvam interdisciplinaridade.

 

 

Existe uma grande preocupação dos alunos de diversas áreas quando se trata da busca do primeiro emprego. Com os alunos de Química Ambiental não é diferente. Como se encontra, no momento atual, o mercado para o profissional formado neste curso?

É importante os alunos tenham claro que nenhum diploma, não importa de qual curso, é garantia de emprego. A bagagem individual conta muito, tanto em aspectos de experiências pessoais como profissionais. Busquem o máximo de desenvolvimento, técnico e humano. Dito isto, bons químicos, (como qualquer outro profissional) conseguem sua inserção no mercado produtivo mesmo em épocas difíceis, como esta que estamos vivendo tanto no Brasil como em várias outras partes do mundo. A lista de problemas ambientais previamente apontada, mostra que há um grande mercado para atuação do Químico. Também espera-se que este profissional tenha capacidade de vislumbrar possibilidades de ampliação do mercado de trabalho, no atendimento às necessidades da sociedade.

 

Qual o seu conselho para os futuros Químicos Ambientais?

Tenham sólida formação nos fundamentos de Química. Desenvolvam o auto-aperfeiçoamento contínuo, a curiosidade e a capacidade para estudos extracurriculares individuais ou em grupo. Mantenham o espírito investigativo, a criatividade e a iniciativa na busca de soluções para questões individuais e coletivas relacionadas com a Química e o meio ambiente. Aprimorem sua capacidade crítica para analisar de maneira conveniente o meio ao seu redor. Reflitam sobre o comportamento ético que a sociedade espera de sua atuação. Contribuam sempre para o desenvolvimento científico, cultural, socioeconômico e político da humanidade.

 


O Prof. Dr. Renato Sanches Freirerenato é, desde 2003, professor do Instituto de Química da USP, onde atua nas seguintes linhas de pesquisas: Química Ambiental, Tratamento de compostos orgânicos poluentes, Sensores eletroquímicos, Biossensores, Processos Oxidativos Avançados, Síntese de materiais catalíticos e Química Verde. Atualmente ele é membro do corpo editorial do periódico Química Nova e um dos organizadores da Escola de Química Verde da USP. Possui 39 artigos publicados em revistas nacionais e internacionais, recebeu menção Honrosa do Prêmio Qualidade em Publicação 2011, pelo Programa de Pós-graduação em Química do Instituto de Química da USP.